5 de maio de 2014

Cansado: mas não pra dizer que eu não acredito mais em você

Os berros estão em toda parte, mas ninguém ouve. Membros de uma igreja que está em ruinas. Partes de um corpo sem membros, em que as regras e a religião fazem com que a liberdade e a graça sejam escondidas. Gritos de pessoas que estão espalhadas em todo lugar, mas que de algum modo, um dia conheceram a boa nova de Cristo. Gritos de pessoas feridas, machucadas de guerra. Feridas pelo seu próprio batalhão, traídas no lugar onde menos esperavam, como o cavalo de Tróia, ou o presente de grego – esse é o sentimento de milhões de cristãos que hoje se denominam de desigrejados.

"Este movimento não é uma especulação e nem mesmo previsão de uma estatística. Ele é fato em nosso país, sua evidência aparece nos órgãos de pesquisa mais fidedignos como o IBGE, que aponta que os evangélicos "independentes" cresceram mais de cinco vezes em uma década: Era menos de 1,7 milhões em 2000 e passaram para 9,2 milhões em 2010. Em proporção foi um salto de 1% da população brasileira para 4,8%, um crescimento assustador para o curto período. Essa porcentagem representa 4 milhões de cristãos que, em muitos casos, resolvem manter uma distância segura da igreja organizada." (CORRÊIA. Dissidentes da Igreja.  P.13). 




O que está acontecendo com a igreja? O que está acontecendo com os cristãos atuais? Quem somos nós? Grandes julgadores do pecado alheio, ignorando a Graça. Aqueles que padronizam os sentimentos das pessoas com nossos “você tem que”, “você precisa”, como quem diz: você é obrigado a (complete aqui com milhares de regras congregacionais). Ora, a igreja contemporânea mecanizou a Graça, mecanizou a Palavra de Deus e o agir de Deus na vida de cada um de modo particular. A igreja contemporânea desprezou o amor entre irmãos, dando lugar ao julgamento, à dor, ao falatório. Seria ousado dizer que a igreja contemporânea deu lugar ao diabo?

O sentimento de profunda decepção é um dos maiores motivos apontados para o problema. Quantas pessoas você conhece que já foram machucadas dentro da igreja? Quantas pessoas já se desiludiram com pastores charlatões, com julgamentos por pecados, como se quem estivesse participando de uma congregação fosse totalmente perfeito? Quantas vezes você conheceu alguém ferido por uma correção que não foi feita em amor? Por uma disciplina que não foi feita dentro da Palavra de Deus? Machucados porque não são perfeitos. Mas quem é perfeito se não Ele? Que padrão é esse que temos nas igrejas atuais em que uma pessoa não consegue se sentir bem, se não se sentir “perfeita” aos padrões pré-estabelecidos?  O sentimento de decepção é resultado de uma expectativa de uma realidade não existente.


Ora, o que criamos dentro da igreja? Um globo onde as pessoas precisam, necessariamente, pensar da mesma maneira, agir da mesma maneira, ser da mesma maneira, se vestir da mesma maneira, ouvir os mesmos tipos de musicas, frequentar os mesmo tipos de lugares. O que criamos? Uma grande bolha onde vivemos. Está aí outra realidade que forma dissidentes: aqueles que pensam e influenciam outros a pensarem, formadores de opinião e que, bem intencionados, não aceitam tradicionalismos que não estão pautados nas sagradas escrituras, quase sempre passam por rebeldes e acabam por desistirem do corpo inerte às regras e padrões.

Essa bolha exclui os imperfeitos, os que pensam por si só e não com a cabeça de seus líderes, exclui aqueles que de algum modo foram considerados rebeldes. O sistema dominador, e que muitas vezes põe em jogo o ego de pastores e líderes, é outro claro motivo que faz com que amantes de Cristo desacreditem na igreja congregacional. Essa bolha constitui um sistema que desestimula o amor entre irmão e o ato de congregar.


“Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas! Pagais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e desprezais os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, a fidelidade.” (Mateus 23, 23)
Quantas vezes olhamos pra alguém que de alguma maneira deixou uma instituição religiosa, uma igreja, uma congregação, por dor na alma, por não conseguir se encaixar. Por não se sentir um corpo. Que é uma igreja se não for corpo? Que é um templo feito por mãos de homens se as pessoas ali dentro não forem um só? Como membros de um corpo cuja cabeça é Cristo. O que é uma instituição onde o amor, a Graça e o agir de Deus não são soberanos? O que é uma instituição onde as regras são mais importantes do que o agir livremente do Espírito Santo? Instituições onde conhecimento é considerado sabedoria. Onde milagres são o foco. Onde você busca o seu bem estar e não o do outro. O que é essa instituição que chamamos igreja?

“Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (João 13:34-35)

Concluindo, a verdadeira mensagem desse texto é de que um conjunto de erros presentes nas congregações atuais tornam os desigrejados reais. Uma realidade de distorções da Palavra, distorções do praticar o amor de Cristo e o amar ao próximo como a ti mesmo, a não aceitação de diferenças, o tradicionalismo, o egocentrismo de líderes, e até mesmo a presença de pessoas como participantes de cultos, mas que não são “um só” com seu irmão, ou a padronização de personalidades, gestos, palavras; são fatos que unidos, tornam por machucar, decepcionar e desacreditar cristãos verdadeiros.
Estamos todos cansados, mas temos força pra dizer que não acreditamos mais nisso que chama igreja, mas que não é corpo, que não ama, que não cumpre o seu papel, que não se assenta na mesa para comer com os pecadores. Cansados, mas não pra dizer: “Hipócritas! Que oram nas esquinas para serem vistos por homens”, mas que no seu coração não amam ao seu irmão.
“Ao anjo da igreja de Laodicéia, escreve: Eis o que diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus. Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te. Pois dizes: Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito - e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que compres de mim ouro provado ao fogo, para ficares rico; roupas alvas para te vestires, a fim de que não apareça a vergonha de tua nudez; e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claro. (Apocalipse 3:14-18)


Oremos pela igreja.




Kellen Antunes, vulgo Lely. Pecadora, remida pela Graça, e zueira.


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